#SU22 Teaser 3 – O Vazio
Diário de Amaro De Quester
Dia 42
É noite ou dia lá na superfície? Eu me pergunto. Faz tantos anos que procuro lugares com os quais ninguém se atreveu a sonhar… Quem iria pensar que o mais estranho de todos seria encontrado no subsolo, bem lá embaixo, onde o tempo não passa de uma ilusão do homem.
Juntar-se à mais nova expedição dos gnomos não exigiu coragem alguma. Mas descer em um poço sem fundo, um abismo insondável, foi um passo muito mais ousado. Se não fosse pela minha curiosidade e pela assistência dos gnomos, talvez eu tivesse desistido.
Bem abaixo da superfície, os gnomos descobriram uma caverna colossal que contém um impressionante pedaço de terra com um vulcão gigante e estrondoso em seu centro, expelindo lava derretida, cinzas e fumaça. Eles chamam este lugar de Gnomprona, um prato que se serve quente e picante. Uma enorme caveira paira sobre a entrada da câmara interna do vulcão. Eu já vi uma fera como essa antes, olhando para mim com buracos no lugar dos olhos. A Forja da Exaltação; desenterrada pela Guilda dos Aventureiros com a ajuda dos gnomos.
A abundância de recursos naturais aqui embaixo não me tenta. Eu não sou movido pela ganância, como vim a perceber. E, ainda assim, eu parei de olhar para cima, porque não há um céu infinito, um sol para contemplar, nuvens ou estrelas para contar. Tudo o que vejo é aquela estranha névoa que ilumina todo o lugar e esconde o teto acidentado da caverna, cheio de rochas e estalactites que podem desabar a qualquer minuto.
Gotas de água estão caindo das grandes folhas verdes e samambaias, mas nenhuma delas atinge o solo. Todas evaporam no meio do caminho. Esta umidade ardente e asfixiante nos cansa e sufoca. Mas precisamos continuar em frente, pois o que encontramos está além de qualquer coisa que eu poderia ter imaginado: criaturas primordiais, algumas nunca vistas antes, enquanto outras acreditava-se extintas. Progenitores de espécies que conhecemos atualmente. E rastros de uma civilização antiga! Talvez até mais antiga do que os nossos ancestrais mais antigos conhecidos.
O exuberante cenário verde ao meu redor é banhado pelo brilho vermelho de rios e piscinas de lava, que saem do vulcão como veias de sangue, pulsando lentamente, como se fosse o batimento cardíaco de Tibia. Uma visão maravilhosa de se ver, uma beleza traiçoeira pronta para atacar, para libertar-se e envolver o mundo em chamas.
O ar que respiro é pesado, quente e cheio de cinzas. Estou em chamas e encharcado ao mesmo tempo, fedendo a enxofre como tudo por aqui. O cheiro de decadência queima e perdura. A selva está transbordando de vida, mas é vida à beira da morte. Cada criatura e cada planta está envolvida em uma constante luta pela sobrevivência, devorando e sendo devorada, enfrentando umas às outras e a própria natureza, aqui embaixo, nas entranhas do nosso lar.
Se este lugar perigoso é o paraíso de que me falaram, eu tenho que repensar o meu conceito de inferno.
Na semana que vem, um ditado dos gnomos diz: “mais dor dos gnomos, mais ganho dos gnomos!”
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