Esta é a continuação da história do herói tibiano, Tibicus. Clique nos links abaixo para ler os capítulos anteriores:
1. Chuva 2. Resgate 3. Desespero 4. Problemas 5. Rivalidade 6. A Entrega 7. Acerto de Contas 8. Reunião 9. Incêndio 10. Impressões 11. Baixa 12. Passado
Fridolin acordou em um lugar desconhecido, lembrando apenas de fragmentos do que aconteceu. Confrontado por seus desejos mais profundos, ele precisa tomar uma decisão.
As lembranças daquele dia haviam sido queimadas profundamente na alma de Fridolin. Muitos anos se passaram até ele descobrir que fora Ferumbras quem devastou Thais naquele dia e que foram seus demônios que saquearam e queimaram todo o campo. Ferumbras era o responsável pelo massacre na fazenda de seus pais.
Depois de escapar, Fridolin viveu uma vida miserável nas ruas de uma das maiores cidades tibianas. Sempre tentando ficar na dele para se manter longe de problemas, ele passou os anos seguintes lutando diariamente entre a vida e a morte. Como tinha o constante medo de adormecer, pois, ao adormecer, os pesadelos e memórias daquela noite o alcançariam novamente, o menino mal conseguia se sustentar nesse ambiente duro e implacável.
Os garotos mais velhos cuspiram nele, o espancaram, chutaram e chantagearam, para garantir que ele saberia que seu lugar era na base da pirâmide social deles. Na maioria dos dias, ele implorava de porta em porta ou cometia pequenos crimes e roubos para se salvar da fome enquanto passava as noites no esgoto entre lixo e ratos.
Ele já havia aceitado sua vida miserável e sem valor quando um dia foi abordado por um homem bem alimentado chamado Beefo. As palavras que saíam de sua boca eram doces e tentadoras, mas Fridolin havia aprendido da maneira mais difícil a ser cético o tempo todo.
Mesmo assim, a oferta que o homem fez era tentadora demais para recusar. Enquanto Beefo estava oferecendo a ele uma saída deste buraco do inferno, Fridolin viu uma possibilidade de realizar seu maior desejo: ele finalmente quis esquecer o que havia acontecido naquela noite. Reprimir os pensamentos dolorosos e apagar o passado da memória. Beefo não sabia nada sobre seus fantasmas, mas o treinamento que ele estava propondo era perfeitamente adequado para diminuir gradualmente as cicatrizes mentais.
Agora, porém, todas aquelas lembranças deprimentes daquele trágico evento voltaram para assombrá-lo novamente. Repetidas vezes, elas passaram pela sua mente. Como um pesadelo constantemente recorrente, eles penetraram em seus pensamentos, dominando-o, retomando seu lugar há muito perdido em sua memória e manifestando em sua mente.
Suando e tremendo ao mesmo tempo, Fridolin acordou em um lugar desconhecido. Com as mãos presas a correntes pesadas penduradas nas paredes, ele estava de joelhos incapaz de mover o corpo. Confuso e desorientado, Fridolin tentou clarear a cabeça. A última coisa de que ele lembrava era sua luta contra aqueles demônios.
Quando eles fugiram para o abismo, ele pulou com eles, enfiou a faca no ar diretamente na pele de couro de um dos demônios e subiu em suas costas enquanto caíam no desfiladeiro sem fundo. Depois, não se lembrava de mais nada. Ele não conseguia se lembrar do que aconteceu ou como ele havia chegado aqui.
Ele tentou levantar a cabeça. Sua visão ainda estava turva e ele só conseguia reconhecer contornos indistintos e movimentos nebulosos.
Poderosas paredes cercavam um imenso saguão com teto alto. Sob a luz oscilante das tochas, ele conseguia ver olhos brilhando no escuro, o olhando avidamente e mostrando presas sedentas por sangue. Sombras volumosas se deslocavam de um lugar para o outro, elevando-se, expelindo fumaça e chamas, e emitindo altas gargalhadas que lhe penetravam o coração.
“Bem-vindo, jovem! Devo dizer que estou impressionado. Poucos conseguiram chegar a este reino.”, uma voz ressoou pelo saguão.
“Quem… quem está falando?”, Fridolin disse, rouco. Sua garganta estava seca como poeira e suas cordas vocais estavam ásperas como uma lixa.
“Não se preocupe comigo, você descobrirá em breve. Até lá, sou eu quem fará as perguntas! Diga-me, o que é que você deseja?”
Fridolin tentou se libertar das algemas, mas cada um dos elos da corrente era maior que seu punho. Não havia como ele escapar.
“Eu… eu não sei…”, ele respondeu. “Me liberte e eu te mostrarei.”
Um raio ardente caiu sobre Fridolin, carregando as correntes e enviando altas doses de ondas de energia através de seu corpo.
“Resposta errada, tente novamente!”
Fridolin sentiu o coração disparar.
Silêncio.
Fridolin não disse uma palavra e seu castigo não tardou a chegar.
Onda após onda, a energia percorreu seu corpo, causando rápidos espasmos e contrações musculares, prejudicando seus órgãos internos. Esgotado de sua força, ele se sentiu inconsciente inúmeras vezes, apenas para ser acordado pelo próximo choque de energia, até que não pudesse mais suportar a dor.
“O chapéu, aqueles demônios pegaram o chapéu, e eu quero ele de volta.”, disse ele com os dentes cerrados. Enquanto ele estava olhando envergonhado para o chão, enojado por sua própria fraqueza, um par de botas pontudas feitas de pele de camurça vermelha escura adentraram em seu campo de visão. Usando suas últimas forças, Fridolin levantou a cabeça.
“É VOCÊ!!!”, Fridolin olhou com olhos arregalados de horror para o homem parado à sua frente. Até então, apenas Tibicus havia lhe contado sobre a aparência deste mestre do mal. No entanto, no segundo em que ele viu a barba branca e emaranhada e o bigode torcido, ele sabia que o homem na sua frente era mesmo Ferumbras.
“Você sabe o que é interessante? Demorou um certo tempo para colocar esta preciosidade de volta em minha cabeça.”, Ferumbras começou a falar enquanto batia na aba de seu chapéu. “Não há uma alma viva que não deseje colocar suas mãos imundas no meu chapéu. Ainda assim, posso sentir que você não veio aqui para roubá-lo.” Ferumbras levantou o queixo de Fridolin com seus dedos. Olhando diretamente em seus olhos, ele disse: “Eu vou perguntar novamente: qual é o seu verdadeiro desejo?”
Fridolin ficou horrorizado com a encarada do feiticeiro. Ele sentiu a energia fria e maléfica correndo por seus dedos, entrando em seu corpo e se arrastando por suas veias, se espalhando como um vírus pestilento. Ele perdeu o controle sobre o próprio corpo e finalmente sobre sua mente. Ferumbras estava assumindo o controle, procurando em seu cérebro por seu verdadeiro desejo. No exato momento em que Ferumbras tirou os dedos de seu queixo, a sensação invasiva se foi.
“Entendo, então você conheceu meus servos antes.”, Ferumbras começou a falar depois de um tempo. “Seus pais… Bem, é trágico o que aconteceu com eles. Mas, você sabe, meus bichinhos podem se empolgar um pouco quando são soltos, o que acaba resultando em algumas tristes mortes de vez em quando, eu receio.”
“VOCÊ OS MATOU!!”, Fridolim gritou com ele.
“Pode-se dizer que eu fui responsável pela morte deles, de uma maneira ou outra. No entanto, não adianta chorar pelo leite derramado. Por favor, me diga, o que você deseja?”
Fridolim não encontrou palavras para dizer.
“Hmm, você não parece ser dos mais inteligentes…”, Ferumbras continuou zombando, enquanto criava outra bola de luz azul em sua mão
“Eu.. Eu.. Eu queria me esquecer de tudo. Virar a página do capítulo mais sombrio e horripilante da minha vida para finalmente poder recomeçar.”, Fridolin desabafou.
“Agora sim estamos conversando!”, Ferumbras disse com um sorriso desdenhoso. “Mas deixe-me adivinhar… Seu grande plano era vir até aqui, me matar, pegar meu chapéu, retornar a Tibia e viver feliz para sempre? Porque a vingança irá curar sua alma e irá, magicamente, fazê-lo se esquecer do passado, certo?”
“Agora ele me pegou”, pensou Fridolin. Ele não tinha tido muito tempo para pensar nas consequências quando pulou no abismo, mas ouvir seu plano ser simplificado e reduzido a essas poucas palavras foi embaraçoso.
“A boa notícia é…”, Ferumbras prosseguiu.”…o seu maior desejo não é nem me matar e nem se esquecer do seu passado.”
“O que você quer dizer?”
Fridolin estava confuso.
“Vi seu maior desejo, Fridolin. Você não está atrás de vingança, riqueza ou paz. Você deseja amor! O tipo de amor que somente seus pais podem lhe oferecer! E quer saber? Com a sua ajuda, posso fazer isso acontecer.”
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