O tempo em Tibia estava tão ruim que até mesmo os deathlings estavam usando botas de borracha. As ruas estavam vazias e desertas, e até mesmo Edgar-Ellen procurara um abrigo seco e recitava suas baladas e poemas de lá, para a tristeza de Grof. Choveu muito nos últimos dias e o solo não conseguia absorver mais água.
As calhas estavam cheias de água de chuva e grandes poças profundas e lamacentas formavam o cenário das ruas. As cortinas da maioria das casas estavam bem fechadas, protegendo os habitantes das pesadas gotas de chuva que incessantemente batiam contra as paredes externas ou explodiam nas empenas de madeira das casas.
Era muito cedo pela manhã quando Tibicus desembarcou no porto de Thais. Um vento gelado soprou pelas ruas, tão frio e forte que parecia que estava chicoteando cicatrizes em seu rosto.
Mas Tibicus não se importava.
Seu casaco de pele poderia protegê-lo bem do vento frio, mas ele o tinha vendido. Vendeu para juntar o dinheiro para o resgate. Vendeu para recuperar seu bem mais valioso. Ele o vendeu porque, embora tenha se esforçado tanto, o ouro não era suficiente.
A chuva o ensopou da cabeça aos pés em pouco tempo. Suas roupas encharcadas grudavam em sua pele, restringindo sua mobilidade enquanto o frio se espalhava implacavelmente através de seu corpo. No entanto, ele partiu direto para o sudeste da cidade. Passando apressadamente pelos pequenos apartamentos da Sunset Homes e pela Guilda dos Paladinos, Tibicus conhecia apenas um destino.
Enquanto isso, Fridolin estava à vontade em sua casa. As tochas acesas cintilavam nas paredes e deixavam à sala iluminada e quente.
Sua velha mesa de madeira rangia sob o peso do ouro que ele havia espalhado sobre ela. Tudo havia saído conforme o planejado.
Satisfeito, ele pegou uma moeda de ouro da mesa e jogou-a no ar com um sorriso diabólico. Que gênio ele era.
Antes que ele pudesse pegar a moeda de volta, no entanto, sua celebração da vitória foi abruptamente interrompida. Lascas e placas de madeira quebradas invadiram a sala quando a porta de entrada foi arrancada das dobradiças com um único chute. Logo acima, o vento gelado invadiu a sala e fez as chamas das tochas dançarem de um lado para o outro.
Fridolin olhou com horror para o homem parado no batente da porta demolida. Os sóis ainda não haviam surgido, deixando o rosto do homem envolto em trevas. Mas aqueles olhos vermelhos brilhantes que o fixavam das sombras negras, sedentos de sangue, ele os conhecia muito bem.
“VOCÊ… Você é o traidor! De todas as pessoas, foi você!” Tibicus entrou na casa e parou perto da luz das tochas.
“T… T… Tibicus… O que… O que te… O que te traz aqui?” Fridolin mal conseguia pronunciar uma frase completa.
“Cale a boca! Apenas cale a boca, seu verme imundo! Eu confiei em você por muitos anos. Eu até o convidei para entrar em minha casa. E você? O que você está fazendo? Seu parasita desonroso, me trair assim?” Lentamente, mas firmemente, Tibicus avançou em direção ao paladin.
Ele havia entrado na fúria do sangue novamente, sem dúvida. Mas, diferente do que ocorreu nos yielothaxes, desta vez, ele manteve o controle sobre sua mente. Seus músculos estavam tensos ao ponto de explodir, veias grossas e latejantes estendiam-se ameaçadoramente em seus braços.
Mesmo antes de Fridolin conseguir escapar de sua rigidez pelo medo, Tibicus já havia agarrado sua garganta. Fridolin sentiu os olhos saltarem das órbitas sob a pressão do aperto de Tibicus. O sangue estava se acumulando em sua cabeça e ele já começou a ficar azul.
Desesperado, ele tentou libertar-se, mas o knight continuou a fortalecer seu aperto. Fridolin percebeu como suas forças o deixavam mais e mais e começou a perder o equilíbrio.
Em puro desespero, ele tentou socar Tibicus, machucá-lo, até arranhá-lo. Qualquer coisa que tivesse soltado o aperto em torno de sua garganta, mas não havia como ele conseguir passar por aquela armadura fortemente protegida.
Enfraquecido pela privação de oxigênio, ele caiu de joelhos na frente de Tibicus. Em pânico, ele olhou para os olhos odiosos de seu atormentador, bem ciente de que seu fim havia chegado.
Seu plano tinha sido impecável. Como poderia Tibicus ter descoberto sobre ele? O que o havia denunciado? Era absurdo que essas fossem suas maiores preocupações diante da morte. Como se as respostas a essas perguntas fossem de alguma ajuda em sua situação atual.
Mas Fridolin já aceitara seu destino. Seus dedos lacerados não deixaram nada além de listras sangrentas no peitoral revestido de aço de Tibicus e ele não tinha mais forças para se defender. Ainda ofegando por ar com tentativas fracas, sentiu a respiração negra da morte iminente restringindo lentamente seu campo de visão.
No entanto, Tibicus estava longe de se dar por satisfeito. De uma só vez, ele levantou o paladin atordoado e o arremessou em um poderoso balanço no ar, fazendo-o cair no chão. O paladin estava lamentando e gemendo. Preso em uma dor excruciante, ele estava de quatro, tentando desesperadasmente bombear ar fresco de volta para seus pulmões.
“Qual é o problema, Fridolin?” Tibicus zombou. “Você, que era um paladin tão orgulhoso e, agora, tudo que vejo é uma pilha desprezível de sofrimento, tosse e chiado no chão. Sua fraqueza me enoja.”
Nesse meio tempo, ele agarrou o paladin pelo colarinho e pelo cinto e o ergueu sobre a cabeça. Como um besouro deitado de costas, Fridolin estava entregue à misericórdia do knight. Tibicus esmagou o paladin contra sua mesa com força total. O ouro espalhou-se por toda a sala quando a mesa ruiu e desmoronou sob o peso de Fridolin.
“Onde está? Onde está o chapéu?” Tibicus gritou enquanto o paladin tentava desesperadamente rastejar através de moedas de ouro, amassando madeira e suas lascas em direção à porta de entrada quebrada.
Ele rapidamente descobriu que suas tentativas de escapar de sua provação eram inúteis quando a ponta da espada de Tibicus atacou a tábua do chão bem à sua frente. Sendo capaz de ver as pequenas veias que foram estouradas em seus olhos pelo estrangulamento na superfície muito bem polida da arma, ele percebeu o quão perto de sua cabeça a espada estava mergulhada no chão.
“Diga-me! AGORA!” Tibicus agarrou-o pelo pescoço, aproximando ainda mais o rosto dele à lâmina afiada da espada.
O paladino estava tossindo e ofegando, mas não importava a dor e o fio da espada, nenhuma palavra passava por seus lábios.
“Sabe, deixar sua cabeça cair na lâmina agora seria uma morte correspondente para um rato de duas caras como você. Seu… HNNGH ..”
Dois dardos sibilaram pelo ar e perfuraram profundamente os ombros de Tibicus. Impulsionado por sua ira de sangue, ele havia negligenciado completamente sua proteção e clareza.
Devido à sua pequena defesa, a força de impacto dos dardos o atirou para trás contra a parede. Os dois projéteis perfuraram sua carne como uma faca quente através da manteiga e suas pontas ancoraram firmemente na parede. Tibicus ficou imobilizado com um golpe
Impulsionado por toda raiva e agressão e apesar de toda a dor, ele tentou se afastar da parede, mas os dardos perfuraram profundo demais.
Quem se atrevia a interferir em seu interrogatório?
Quando ele viu duas figuras entrarem na sala, seu coração parou por um momento. Ele não estava preparado para o que estava esperando por ele.
Esses dois paladins eram capangas de Beefo. Um deles colocou o corpo impotente de Fridolin sobre os ombros enquanto o outro pegava apressadamente o ouro espalhado.
Tibicus estava preso à parede e cada tentativa de se libertar só o fazia perder mais e mais sangue. No entanto, ele estava agitando e chutando ao redor, cuspindo xingamentos, mas os dois só tinham um sorriso cansado para seus insultos.
Eles já tinha partido há muito tempo quando a perda de sangue excessiva fez Tibicus desmaiar. Eles se foram e levaram sua única chance de recuperar o chapéu com eles. Eles foram embora, deixando-o ali para morrer.
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